sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Bono é o messias – ele anda sobre a água!!!

Buenas galera!!
Pois é.... passei por uma experiência catártica-messiânica na terça-feira no estádio do Morumbi ao assistir o tão esperado e tão complicado show do U2.
Preciso comentar que conseguir ingressos para esse show foi uma verdadeira Via Crucis. Eu fiquei 12 horas na porcaria do Pão de Açúcar do Real Parque e saí sem ingresso nem senha. Foi a maior sacanagem.... Com a desculpa de que o PdA não era responsável por organizar a fila (então quem era? O Acioly? O Ronaldinho? O próprio Bono? Pena que nenhum deles estava lá pra isso), eles deixaram todo mundo do lado de fora por um portão, enquanto o outro portão ficava aberto para os “clientes” do supermercado. Conclusão: fura-filas, idosos, gestantes, espertos e muita propina depois, só os desonestos conseguiram ingresso naquele ponto.
Fiquei bastante frustrada, especialmente porque um show do U2 com abertura do Franz Ferdinand – a melhor banda da atualidade – é imperdível! Encarei a realidade que o discurso do Bono é realmente vazio e ele só vem para países de terceiro mundo para ganhar muito dinheiro pra ele e para os amiguinhos desonestos dele (Acioly, Ronandinho, Diniz, Niemeyer).
Mesmo assim eu queria ver o show, principamente pelo Franz Ferdinand, uma banda muito bacana que faz rock alternativo dançante da melhor qualidade.
Na hora da compra para o segundo show, a insanidade do telefone, foi a vez de uma amiga minha testar os limites máximos de sua paciência e ela conseguiu!! Conseguimos os ingressos!!! Parecia surreal que fosse tamanha epopéia conseguir ingressos para um show de rock.
Mas quando o U2 entrou no estádio eu descobri que realmente aquilo não era um show de rock.
Antes de entrar nisso, vou falar do show do Franz, que tocou quase uma hora da melhor música que se faz hoje em dia. Muito discretos, os escoceses pareciam estar se divertindo muito com a vinda ao Brasil e a abertura aos shows do U2, afinal, eles acabam de lançar o segundo CD, no rastro do estrondoso sucesso do primeiro. As músicas deles são geniais – dançantes, roqueiras, engraçadas, irônicas e inteligentes. Com uma simpatia contagiante e o hit “Take me Out” eles levantaram o público do Morumbi.
Por mais bacana que tenha sido o show (e esse show do Franz valeu as 12 horas de espera na fila), como foi show de abertura, a maioria das pessoas não estava nem aí. Eu pulava e cantava todas as músicas (a maioria sei de cor), enquanto o pessoal do meu lado batia o maior papo.... chato quando uma de suas bandas prediletas é ignorada, mas mesmo assim os meninos fizeram um grande show.
Depois disso foi a vez do messias Bono Vox iniciar sua interminável pregação regada à muita boa música de uma banda que ainda mantém muita qualidade nas suas composições e faz músicas como “Walk On”, “Vertigo”, “Elevation” e “Sometimes you can’t make it on your own”.
O show do U2 é um espetáculo de marketing político incomparável a qualquer outra coisa. Assistindo ao show eu percebi que eles não fazem simplesmente música, eles escrevem hinos. Hinos religiosos, políticos feitos especialmente para emocionar e manipular as massas. Isso é bom e ruim. O bom é que músicas como “Where the streets have no name”, “Sunday, bloody, Sunday”, “I still haven’t found what I’m looking for”, “One” e “With or Without you” são atemporais e verdadeiramente emocionantes. A parte ruim é que o Bono usa elas da forma mais marqueteira da face da terra.
O show é maravilhoso! Eles são muito bons ao vivo, uma banda de qualidade única. E tocam tudo o que a gente quer ouvir. Mas nada é espontâneo....
Todos os momentos emocionantes e catárticos do show são extremamente ensaiados e artificiais. Tudo o que eu vi um dia em shows de Madonna e Michael Jackson, o U2 transformou numa obra de arte. A arte de manipular corações e mentes, o marketing disfarçado de rock’n’roll.
Em TODOS os refrões, a guitarra se intensifica, a voz de Bono atinge acordes altíssimos, todas as luzes do palco se acendem e o público vai à loucura. Na primeira vez parece bacana, na quinta já é exagero.
O discurso vazio do Bono é o principal responsável pela artificialidade da performance da banda. Claro, ele luta por causas nobres, quem sou eu pra criticar? Mas o que realmente ele faz além de ter reuniões com George Bush e Lula? Além de intermináveis pregações usando (e, às vezes, estragando) as belas músicas que ele mesmo compôs para tentar imortalizar a si mesmo?
Bono se leva muito a sério. Ele se acha tudo isso e muito mais. Ele fala por todos nós e, depois de vê-lo ao vivo, acho que ele está convencido (e tenta convencer a todos) que ele é o novo messias. O Bono é um chato de galochas (desabafo). E, às vezes, ele torna impossível separar a música de seu discurso inócuo e superficial. “Vamos juntos trabalhar para construir um novo Brasil”- foi o que ele disse. O que é isso? Que novo Brasil é esse? Eu vivo aqui e não notei nada de novo – os velhos corruptos, os velhos esquemas, a velha luta de classes. Cadê esse novo Brasil? Acho que só o Bono é quem vê isso.
Tirando essa pregação demagógica, as músicas são muito boas. E é isso que vou fazer, ouvir as músicas e esquecer que o Bono existe e que ele é um político em constante campanha eleitoral.
Nem preciso dizer como foi o show porque todos viram na TV. Foi igual ao de segunda-feira, com alguns detalhes diferentes, mas sempre bem ensaiados. Eu gosto muito das músicas do U2, aliás tenho quase todos os seus CDs. Mas a melhor supresa foi quando encerraram a noite com a minha balada predileta, sem pregação, sem discurso, só “All I want is you”. Aí sim, eu saí realizada, de alma lavada.
That’s all folks!
See ya!

Um comentário:

Leandro Corrêa disse...

Concordo que o show do U2 hoje seja uma mistura de tudo isso que você falou.
Agora, não tem como não se emocionar. Por mais ensaiadas que sejam certas performances, o Bono é um verdadeiro showman em prol de causas nobres. Não acredito realmente que ele conseguirá um dia convencer todos os seus fãs e "lutarem" do seu lado.
Mas só o fato de ele se aproveitar de toda a fama que possui para chamar a atenção das pessoas para as injustiças do mundo já faz dele um artista com meu respeito.
Ademais, o show foi do caralho e a banda tá na ativa até hoje porque sabe fazer uma apresentação ao vivo virar um espetáculo.